sábado, 21 de junho de 2014

Mudança

     Nesses entraves da vida, por motivos de reorganização, vamos nos mudar pra outro apartamento. Durante esse processo da mudança vivi alguns momentos de reflexões curiosos. Me lembrei de eu com uma mega barriga de grávida, junto com a minha melhor amiga e comadre, visitando esse apartamento, sabia que seria ele. Me lembrei de saber onde seria o quarto do pimpolho, o nosso, ê delícia de vida recomeçando...
     Acertamos que vamos nos mudar. Ficamos calados no metro de volta para casa. Ele estava mais triste que eu, mais frustado. Eu respirei fundo e falei um outro dia, o que de verdade me doía em se mudar: A pior parte vai ser desmontar o quarto do Pedro... Meus olhos se encheram de lágrimas, olhei triste pela janela.
     Ele não entendeu, homens não sentem como as mulheres, mais que isso, pais não são como mães. Mães são apegadas aos detalhes. Então respirei fundo e falei: A parte psicológica. E nos dias seguintes fui entendendo minha relação com aquele quartinho, lindo, alegre, vivo.
   
     Nos mudamos eu estava no final da gravidez. Nosso quarto dá de frente para o dele, deitada eu consigo enxergar a porta do quarto. E aos poucos eu fui acompanhando tudo por aquela porta. Começou com a cômoda, ainda tinha o guri na barriga. Deitava de tarde e ficava olhando o quartinho, imaginando ele ali no trocador, imaginando o pai, sonhando, sonhando acordada. Dali, da minha cama, acompanhei a porta virar personalizada: tag do nascimento, frases do Pequeno Príncipe e a plaquinha Pedro, a mesma da maternidade.
     Ali estava o Pedro, meu diamante lapidado 9 meses. Ali era meu baú do tesouro.
    Vi surgirem prateleiras, vi surgirem balagandãs dos milhare: bichinhos de pelúcia, terço, fotos, sapatos. Vi o meu guri. Vi o meu marido. Vi o amor entre eles crescer mais rápido que qualquer semente que já acompanhei. Vi as trocas de fralda da manhã. Vi a saída do banho. Vi eles se beijando e dando risadas. Durante as noites eu não via nada, mas mesmo assim quando escutava algo abria o olho e já olhava para lá, até ter certeza de levantar ou voltar a dormir.
      E foi ontem de noite, deitada olhando aquela quartinho que percebi que o que mais me assusta no novo apartamento é que não verei mais a portinha. Aquela falsa segurança que aquele "Pedro" escrito na porta me oferece. "Aonde quer que eu vá, levo você no olhar", mais ou menos isso. Mas entendi que é uma falsa segurança que tem tanta coisa maior pra acontecer do que enxergar a plaquinha "Pedro" do conforto da minha cama, e como eu já disse "levo você no olhar", ele vai estar lá do meu ladinho, não é isso que importa de verdade?

Já viu o quartinho do Pedro? clique aqui



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